quarta-feira, 8 de abril de 2015

A história moderna dos pastéis de Chaves -(recontando e dando cunho novo a histórias já existentes)

O Conto dos Pastéis de Chaves
Não vou começar esta história por «Era uma vez»: já todas as histórias começam assim; então esta história vai começar de forma diferente.
Então é assim: há muito tempo, mais precisamente no já ido ano de 1862, uma pobre senhora tentava ganhar a vida pelas ruas de Chaves. Levava consigo uma cestinha que escondia um verdadeiro tesouro – nem mesmo ela sabia naquela altura que os seus bolinhos de forma estranha, acabariam por ficar famosos.
E todos os dias, ela percorria a cidade com o seu cesto de bolinhos: aqueles pastéis recheados de carne - tinham uma forma estranha e meio tosca, até: mas eram tão bons que a senhora nunca os tinha em número suficiente para todas as bocas dos flavienses.
Certamente já perceberam que se trata dos famosos Pastéis de Chaves.
Quando ela passava, logo aquele cheirinho gostoso pairava no ar: de repente tinha um bando de crianças à sua beira. E ela gostava tanto das crianças! Até um ou outro espanhol que por ali passava se encantava com aqueles doces toscos e saborosos.
Não sabemos o nome de tão ditosa e talentosa senhora, mas podemos, então, chamá-la de Almira – Almira – a fazedora de sonhos! Sim, sonhos em forma de pastel de massa folhada com carnes.
As crianças, seres imaginativos e fantasiosos por natureza acreditavam que a senhora punha uma dose de pó mágico naqueles bolinhos. Mas será que não punha mesmo?!
 - Pois eu penso que punha – além de os confeccionar muito bem, a D. Almira colocava também a dose certa de amor e isso tornava aqueles pastéis únicos!
Mas por mais pastel que fizesse era impossível sustentar a gula dos flavienses. Mesmo assim, dias após dia, debaixo de um Sol forte de Verão, debaixo de chuvas intempéries, de um frio lancinante no Inverno – todos os dias a D. Almira repetia o mesmo ritual e ia para a rua vender os seus preciosos pastéis: era esse o seu tesouro mais precioso.
Mas também havia aqueles dias crepusculares em que o Sol se punha e aquele era um verdadeiro espectáculo para os sentidos e os dias em que o Sol se despedia e a corajosa e trabalhadora senhora ainda tinha mais quilómetros a percorrer. E, quando chegava a casa - ia comer e descansar e pela madrugada começava ela a confeccionar os seus tesourinhos folhados.
Era uma mulher generosa com aqueles que não podiam pagar e tinha sempre um pastel para dar a uma criança. Havia uma em particular que a seguia todos os dias:

um menino de famílias humildes que acabava por ajudar a senhora a vender os seus bolinhos. Ela deixava alguns guardados para o menino levar para casa: assim ele e sua família não passariam fome.
Ela era uma exímia contadora de histórias (não era só os seus pastéis que chamavam a atenção de miúdos e até de graúdos); mas igualmente as suas histórias muito bem contadas e cheias de fantasia. As histórias e aqueles bolos folhados com carne faziam com que as pessoas sonhassem.
Contava histórias da sua infância, da infância dos seus filhos e inventava as suas próprias histórias entre uma e outra dentada (das crianças e até dos adultos) nos seus bolinhos mágicos.
            O sítio por onde mais gostava de andar era junto ao castelo ou então junto ao Tâmega. Já todos conheciam a simpática e bem-disposta Dona Almira e pacientemente todos os dias esperavam por ela e pelos seus bolinhos feitos com tanto amor.
Para as crianças ela e os seus pastéis é que eram os heróis. E imaginavam que a senhora voava e levava as suas mágicas iguarias.
Aquele dinheirinho que ganhava com os pastéis fazia tanta falta lá em casa, mas agora nem ela, nem os seus filhos e netos passavam mais fome.
Os gostosos pastelinhos de forma estranha mas bem deliciosa começaram a ficar famosos.
Um dia a fundadora da Casa do Antigo Pasteleiro, decidiu, então, oferecer uma libra por aquela gulosa iguaria – deste modo, os pastéis alcançaram um lugar de destaque e fazem sucesso até aos dias de hoje.

Assim o famoso pastel passou a satisfazer a gula de todos aqueles que o quisessem comer e ainda hoje faz as delícias de muitos e não só por Chaves mas um pouco por todos o país e até pelo estrangeiro, tornando-se numa verdadeira poesia de sabores.


·         História baseada em factos verídicos e atestados historicamente mas em parte ficcionada – não se sabe mais dados sobre a vendedora –o nome foi inventado e  parte da história em redor dela também) – uma história antiga transformada numa outra história.


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