O Conto dos Pastéis
de Chaves
Não vou começar
esta história por «Era uma vez»: já todas as histórias começam assim; então
esta história vai começar de forma diferente.
Então é assim:
há muito tempo, mais precisamente no já ido ano de 1862, uma pobre senhora
tentava ganhar a vida pelas ruas de Chaves. Levava consigo uma cestinha que
escondia um verdadeiro tesouro – nem mesmo ela sabia naquela altura que os seus
bolinhos de forma estranha, acabariam por ficar famosos.
E todos os
dias, ela percorria a cidade com o seu cesto de bolinhos: aqueles pastéis
recheados de carne - tinham uma forma estranha e meio tosca, até: mas eram tão
bons que a senhora nunca os tinha em número suficiente para todas as bocas dos
flavienses.
Certamente já
perceberam que se trata dos famosos Pastéis de Chaves.
Quando ela
passava, logo aquele cheirinho gostoso pairava no ar: de repente tinha um bando
de crianças à sua beira. E ela gostava tanto das crianças! Até um ou outro
espanhol que por ali passava se encantava com aqueles doces toscos e saborosos.
Não sabemos o
nome de tão ditosa e talentosa senhora, mas podemos, então, chamá-la de Almira
– Almira – a fazedora de sonhos! Sim, sonhos em forma de pastel de massa
folhada com carnes.
As crianças,
seres imaginativos e fantasiosos por natureza acreditavam que a senhora punha
uma dose de pó mágico naqueles bolinhos. Mas será que não punha mesmo?!
- Pois eu penso que punha – além de os
confeccionar muito bem, a D. Almira colocava também a dose certa de amor e isso
tornava aqueles pastéis únicos!
Mas por mais
pastel que fizesse era impossível sustentar a gula dos flavienses. Mesmo assim,
dias após dia, debaixo de um Sol forte de Verão, debaixo de chuvas intempéries,
de um frio lancinante no Inverno – todos os dias a D. Almira repetia o mesmo
ritual e ia para a rua vender os seus preciosos pastéis: era esse o seu tesouro
mais precioso.
Mas também
havia aqueles dias crepusculares em que o Sol se punha e aquele era um
verdadeiro espectáculo para os sentidos e os dias em que o Sol se despedia e a
corajosa e trabalhadora senhora ainda tinha mais quilómetros a percorrer. E,
quando chegava a casa - ia comer e descansar e pela madrugada começava ela a
confeccionar os seus tesourinhos folhados.
Era uma mulher
generosa com aqueles que não podiam pagar e tinha sempre um pastel para dar a
uma criança. Havia uma em particular que a seguia todos os dias:
um menino de
famílias humildes que acabava por ajudar a senhora a vender os seus bolinhos.
Ela deixava alguns guardados para o menino levar para casa: assim ele e sua
família não passariam fome.
Ela era uma
exímia contadora de histórias (não era só os seus pastéis que chamavam a
atenção de miúdos e até de graúdos); mas igualmente as suas histórias muito bem
contadas e cheias de fantasia. As histórias e aqueles bolos folhados com carne
faziam com que as pessoas sonhassem.
Contava
histórias da sua infância, da infância dos seus filhos e inventava as suas
próprias histórias entre uma e outra dentada (das crianças e até dos adultos)
nos seus bolinhos mágicos.
O sítio por onde mais gostava de
andar era junto ao castelo ou então junto ao Tâmega. Já todos conheciam a
simpática e bem-disposta Dona Almira e pacientemente todos os dias esperavam
por ela e pelos seus bolinhos feitos com tanto amor.
Para as
crianças ela e os seus pastéis é que eram os heróis. E imaginavam que a senhora
voava e levava as suas mágicas iguarias.
Aquele
dinheirinho que ganhava com os pastéis fazia tanta falta lá em casa, mas agora
nem ela, nem os seus filhos e netos passavam mais fome.
Os gostosos
pastelinhos de forma estranha mas bem deliciosa começaram a ficar famosos.
Um dia a
fundadora da Casa do Antigo Pasteleiro, decidiu, então, oferecer uma libra por
aquela gulosa iguaria – deste modo, os pastéis alcançaram um lugar de destaque
e fazem sucesso até aos dias de hoje.
Assim o famoso
pastel passou a satisfazer a gula de todos aqueles que o quisessem comer e
ainda hoje faz as delícias de muitos e não só por Chaves mas um pouco por todos
o país e até pelo estrangeiro, tornando-se numa verdadeira poesia de sabores.
·
História baseada em factos verídicos e atestados historicamente mas em
parte ficcionada – não se sabe mais dados sobre a vendedora –o nome foi
inventado e parte da história em redor
dela também) – uma história antiga transformada numa outra história.
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